Mas era, sim. Como era um que resolveu se masturbar, a meu lado, numa sessão de Festa de Família. Desisti de ver o filme, consegui outro lugar na sala lotadíssima. O tarado se levantou atrás de mim, mas acabou deixando o cinema. E eu fui ver os tarados do filme. Moral das histórias: existem tarados cult.
Até pouco tempo, eu achava que só tinha sido vítima de assédio apenas por desconhecidos. Assistindo a um programa na TV que tratava do abuso sexual a crianças por parentes ou conhecidos, senti um tremendo mal-estar. E me veio uma recordação que, por anos estava camuflada por mim mesma. E escrevi o texto que segue abaixo.
Enojada, a mulher entende, com quase quarenta anos de
atraso, que a gracinha feita pelo amigo da família era abusiva. Como reconheceu o
abuso? Depois de fechar a cara pro adulto, jamais mencionou o fato a ninguém. Nem aos vigilantes pais, sempre em estado de alerta
quanto aos possíveis "desencaminhadores" - se falava assim, então -
da adolescente.
Não houve bolinação, era só "brincadeira". Uma cosquinha na palma da mão da menina, um riso idiota, a pergunta: "Você sabe o que é isso?", e o semblante assumindo um ar severo, diante da seriedade do "Sim" da garota. Ele soube reverter a situação. Parecia que ela imaginara tudo, que ele realmente estava brincando - e que ela não entendera nada.
Passar décadas sem perceber o abuso é uma forma de se defender da estupidez, imaginando que "levou a mal" uma brincadeira. Esse abuso está no carinho inconveniente do colega de trabalho, no convite injustificável do chefe para jantar a sós, na necessidade de inventar desculpas ou namorados fictícios para escapar dessas insistências. Tudo reconhecido, a reação é discreta para não constranger o homem, que "apenas avançou o sinal", como é socialmente esperado dele.
Passar décadas sem perceber o abuso é uma forma de se defender da estupidez, imaginando que "levou a mal" uma brincadeira. Esse abuso está no carinho inconveniente do colega de trabalho, no convite injustificável do chefe para jantar a sós, na necessidade de inventar desculpas ou namorados fictícios para escapar dessas insistências. Tudo reconhecido, a reação é discreta para não constranger o homem, que "apenas avançou o sinal", como é socialmente esperado dele.
Ao lado de boa parte das mulheres, eu me calei diante dessas situações.
Ouvindo uma história parecida com a que vivi e fiquei atônita com a
sensação de mal-estar que experimentei. E me lembrei desse homem, inteligente,
agradável, que, repentinamente, parou de frequentar nossa casa. Só agora compreendi que ele
temeu ser desmascarado e, por isso, se afastou de nosso convívio. Mas teve a cara de pau de comparecer, convidado que foi, a meu casamento, acompanhado da mulher.
Eu permaneceria calada se não visse a importância de ajudar algumas mulheres - e quem sabe meninos que também sejam vítimas de situações semelhantes - a reconhecerem o que é abuso. Ninguém deve se calar ou se sentir culpada diante da "brincadeira" esquisita. Se é constrangedor, se é esquisito, não é
natural. Se você jamais faria isso com outra pessoa, publicamente ou não, está errado. Se não pode ser comentado com
ninguém, se incomodou, é abuso mesmo.
Ah, sim: a maioria dos homens não age dessa maneira, não. Só os recalcados.
Ah, sim: a maioria dos homens não age dessa maneira, não. Só os recalcados.
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