- Ah, mas nós, mulheres, temos que aguentar o calor, né? A gente também devia poder andar sem blusa.
Concordo, tentando não imaginar o bando de senhoras (sou, provavelmente, a mais jovem da fila inteira) em topless. E ela volta à carga:
- Olha, não sou racista, já fui casada com um preto.. mas vc repara que só preto anda assim, sem camisa.
- Não mesmo. Tem um monte de garoto marombado, pitboy de academia, que desfila sem camisa pela rua! - retruco, sorrindo, sempre amistosa para a não-racista, que continua.
- Nunca vi branco assim.
- É só olhar ao meu lado - aponto um senhor que passa por nós, ostentando um físico semelhante ao do Gerard Depardieu.
- É preto! Pode ver.
- Caramba, o cabelo dele é mais liso que o meu, a pele mais clara ainda...
Chegou minha vez de passar pela caixa e o papo minguou. Momentos antes, ouvi alguns funcionários do mercado em intensa conversação. Um falava: "Já disse pro meu filho que ele tem que respeitar, mas que não é natural, não, e que ele não pode se acostumar com isso. Só respeita, deixa eles pra lá". Pelos semblantes pensativos, parece que falavam sobre gays.
Em minha gestação como copacabanense Nutella - como diz um amigo, que é Copacabana raiz - ouvi pelo menos quatro desconhecidos externarem sem o menor pudor opiniões homofóbicas e racistas. Lá na Província não era assim, não.
(O Brad Pitt descamisado é só porque a gente merece...)


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