Estou realmente envelhecendo mal. Ou envelhecendo má. Diariamente recebo telefonemas que me pedem para aguardar um instantinho e a ligação cai. São dois a três por dia. Sempre imaginei que fossem robôs. Antes, a voz tinha sotaque paulistano. Agora, é nordestino, mas muito difuso, e dolente. Atendi, fiquei à espera exatos 40 segundos, tentando desligar a ligação. Mas a voz dolente se fez ouvir, falando algo absolutamente incompreensível.
Eu, daqui, dizia que não conseguia compreender. Ela, de lá, insistia na cantilena, com menos vigor e embolando a fala. Perguntei se havia alguém não alcoolizado que pudesse repetir o que ela falava. Imediatamente, a voz se tornou clara e com uma dicção de professor de Ensino Básico!
- Aqui não tem ninguém bêbado. Só gente trabalhando, ouviu, senhora?
- Desculpe, achei que era um robô desses que me telefonam todos os dias.
- Ah, não! Então eu vou desligar.
Consegui um feito: a voz se tornou compreensível. Mas ofendia a pobre da atendente. Não sei se me alegro, se me constranjo ou se tiro o telefone da tomada de vez.
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