21.2.05

Motorista Categoria B

A fila estava pequena no quiosque lotérico da estação do metrô da Carioca. Precisava sacar 50 reais e entrei na fila exclusiva para correntistas da Caixa Econômica. Dez minutos se passaram, o sol batendo apenas e exatamente naquele local. Como eu saíra cedo, na hora do temporal, estava toda paramentada para passear no Central Park, claro. Sapato fechado, casaco marrom (de voil, mas marrom), tudo para esquentar. A fila era à prova de distrações. A visão mais próxima era do quiosque de lingerie erótica e nem fica bem a gente fixar olhar em calcinhas com plumas escondendo fendas. Foi então que a mulher do caixa avisa ao homem que estava em minha frente que só iria atendê-lo. Eu que passasse para outra fila, na qual oito infelizes aguardavam atendimento. Falei que não passaria, mas avisaria quem viesse se postar atrás de mim. Ela disse que não iria me atender porque precisava almoçar. Um homem entrou na fila atrás de mim, avisei-o da informação da mulher. "Ué, aquela ali me disse pra vir para cá". Aquela ali acabou assumindo o posto da que ia almoçar. Bufando, atendeu a todos.

Com o espírito renovado pela boa vontade das moças do quiosque no atendimento do público, entrei no metrô para ir até uma clínica indicada pelo Detran, aonde faria meu exame de saúde, comprovando ter condições físicas, psicológicas e morais para continuar merecedora de uma carteira de habilitação, categoria B - Categoria "B", podendo dirigir veículos motorizados com menos de oito lugares, excluído o espaço para o condutor, e peso bruto total superior a 3,5 mil quilogramas!!!! Emergi na Presidente Vargas e participei da corrida para alcançar a calçada oposta ao buraco do metrô. O bom é que hoje em dia tem tanta van fazendo condução que o trânsito pára e dá tempo de galgar os canteiros e atingir o objetivo. Há muito tempo não caminhava por aquelas bandas. Continua tudo feio, calçadas maltratadas e imensas poças d' água nas pistas de automóveis. Odores fétidos misturando fritura com gasolina. Quem mandou parar de fumar e recuperar o olfato? Sofre, carioca, sofre!

Subi um edifício comercial bem sinistro - na acepção real do termo, não na da gíria atual - e cheguei à clínica indicada pelo Detran, que fica do outro lado da Avenida. A "clínica" é um conjunto de salas com dois banheiros, bebedouro e carteiras escolares no hall de espera. A modernidade está no equipamento digital de identificação. Já conhecia o equipamento. Moderníssimo, é só botar os polegares e os indicadores num visor e estamos identificados. Eu fizera o registro na sexta-feira, quando não pude ser submetida ao exame médico, pois era quase meio-dia e a clínica fecha para almoço, por determinação do Detran, informa um aviso de papel na porta. Ou eu voltava mais tarde ou voltava em outro dia. O sistema de computação também estava ruim, porque o Detran anda cheio de gente, já que esta semana é a última antes que entre em vigor a obrigatoriedade do cursinho de boas maneiras no trânsito que todos os motoristas fluminenses deverão fazer a partir de março, pagando algo em torno de R$ 50. Farei daqui a cinco anos. Afinal, paguei a renovação da carteira (R$ 70) e o exame médico (R$ 42), um dos menos detalhados pelo qual passei em 44 anos. A médica se espantou com minha pressão arterial (13X18).

- Ué, você tem esta pressão normalmente?
- Tenho.
- Mas você disse que tem pressão alta.
- Tomo remédio para mantê-la assim.

Satisfeita, ela pediu para ver minhas pernas até o joelho. Mostrei. Mandou que eu fizesse alguns movimentos da Macarena com os braços. Depois, para apertar uma espécie de medidor de força manual. E olhar numa máquina, dizendo quais letras e cores via, como reagia a um flash. Com fones de ouvido, foi comprovada a excelência de minha audição. Então, acabou. O exame foi tão rápido quanto os que o Detran fazia gratuitamente no passado.

Por que eu não acredito na validade de cursos de boas maneiras para motoristas? Porque ouvi outro dia uma historinha ilustrativa que conto aqui. Uma moradora de cidade serrana saiu afobada de casa para uma reunião no Rio. Estava tão afobada que, ao passar pelo pedágio, percebeu que estava sem bolsa. Mas conseguiu catar moedas, aqueles troquinhos que sobram de estacionamento, para pagar o pedágio e seguiu viagem. Depois da reunião, resolveria o que fazer. Foi parada numa blitz na Avenida Brasil. Ao guarda, explicou que estava sem documentos, sem nada e que, se iam levar o carro, que lhe ajudassem a pegar um táxi rapidamente. O PM quis, então, que ela telefonasse para casa e pedisse a alguém que descesse até a blitz e trouxesse "o da cerveja". Ela se recusou, repetindo que estava atrasada.

- Mas a senhora não tem nada mesmo? A gente não quer rebocar seu carro, argumentou o guarda.
- Não, olha aqui. Tenho umas moedas de troco do pedágio, não dá nem três reais.

O guarda deu um suspiro profundo: "Ah, tá. Me dá isso aí mesmo", disse, liberando sua passagem.

Será que o curso de direção defensiva e noções de trânsito ensinará como reagir em situações similares?

Nenhum comentário: