24.10.05

Depois da chuva



A gente acorda com um estrondo, antes das 6 da manhã, e é uma tempestade violenta, daquelas de livro de Somerset Maughan nos Mares do Sul. As tormentas dele eram no Pacífico, as nossas são no Atlântico. Parece fúria dos céus com o resultado do referendo.
A Rua São Clemente se transforma em rio, enquanto no Amazonas os córregos viraram terra.Corro até a varanda, carrego as gaiolas de passarinhos da chuva para longe da chuva, deixo as vidraças escancaradas mesmo. Penso seriamente se devo ou não tirar todos os fios de eletrodomésticos das tomadas, mas só me animo a desligar o moden da banda larga. Volto para a cama, Hugo desceu para confirmar que a São Clemente é um rio caudaloso e não temos como sair para a escola de carro ou a pé. Ele, feliz, adormece.
A "Mad" publicou, no milênio passado, charges com 'momentos de felicidade'. Os que nunca esqueci era:
- Acordar sobressaltado, atrasado e constatar que é sábado;
- O dentista dizer que você só precisa de uma limpeza nos dentes;
- A professora faltar no dia da prova de Matemática.
Um desses momentos de intensa felicidade é mostrado nas últimas cenas do filme "Esperança e Glória" de John Boorman. A escola é bombardeada e, no meio do tumulto de crianças correndo e professores impedindo que eles entrem, um garotinho se vira para o céu e grita "Thank you, Adolf!". Só tive esta alegria uma vez. Em meu último emprego, nosso andar foi inundado por um problema nos sprinklers e acabamos não tendo que trabalhar. Hoje, permiti que Hugo experimentasse tal felicidade imensa ao faltar aula por total impossibilidade de chegada ao colégio. Minha Júlia, que entrava mais tarde, insistiu e conseguiu ir para a escola, quando as águas baixaram.
E agora o céu está azul, faz um solão na Cidade. Vai entender este tempo pós-tsunami...

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