10.9.06

Globalização

A aldeia global de McLuhan há muito pratica a apropriação de costumes das nações do Primeiro Mundo sem perceber o quanto em alguns lugares os hábitos são bem mais humanistas e convenientes do que em boa parte dos países ao norte do planeta.
Em termos de amor e sexo, principalmente, estamos importando uma terminologia ridícula que acaba saindo do campo semântico e invadindo o social.
Há vinte anos conheci um alemão, Karl, que esperava, no Brasil, ansioso, a chegada de sua noiva. A moça chegou e logo os dois foram morar no mesmo apartamento. Continuaram se apresentando ao mundo como noivos até se casarem em cerimônia religiosa e civil, na Alemanha. O noivado do casal alemão deu o que falar entre os amigos brasileiros, pois, mesmo antes do divórcio ser legalizado no país, já se consideravam casadas as pessoas "amigadas".
Muitas mudanças legislativas mais tarde, incluindo a que reconhece a união estável como um contrato social não assinado, o noticiário é invadido por celebridades "noivas" ou "namoradas" que dividem a mesma casa.
Aí chega a notícia de Veneza sobre a apresentação de um filme de Darren Aronofski, estrelado por sua noiva Rachel Weiss e Hugh Jackman. Um detalhe interessante é que os noivos têm um filhinho pequeno. Para arrematar o ridículo da situação, obviamente os jornalistas perguntaram como ele conseguira dirigir a noiva em cenas amorosas com Hugh Jackman - como se todos fossem adolescentes montando peça no teatro amador do colégio. Na legenda do Globo on line, o redator, brasileiro, tascou "Darren e sua mulher Rachel", provavelmente irritado com essa terminologia dúbia.
Se no primeiro mundo as pessoas não se consideram casadas ao morarem juntas, provavelmente deve haver razões legais (Fisco, divisão patrimonial) para mantê-las nessa situação.
Ao nos adaptarmos a esse linguajar, incorporamos a rejeição social aos relacionamentos que dispensam a aprovação pública. Afinal, casamento, até pra Igreja Católica, é um ato que envolve duas pessoas, um sacramento celebrado pelos noivos, não pelo padre.
Da mesma forma, os namoros hoje são compromissos solenes e o casamento, graças ao imaginário norte-americano popularizado pelo cinema, um passo tão terrível na vida do adulto moderno que a fuga dele é compreensível para homens e absurda para mulheres. Como se mulher quisesse se casar a todo custo e homem não.
Só falta a gente começar a acreditar que não se podem criar filhos em cidades grandes e todos nos mudarmos para a Barra da Tijuca onde as crianças terão uma infância sadia e absolutamente dependente de automóveis.

4 comentários:

Jôka P. disse...

Vim fazer uma visita e dar um alô !
Beijo e uma semana legal pra você !
:D
Jôka P.

Anônimo disse...

aqui eles chamam de samboer as pessoas que vivem juntas sem se casar legalmente...aqui tambem nao tem pensao pra ninguem

Olga de Mello disse...

Bem, aqui, felizmente, a união de fato é reconhecida legalmente. O que quer dizer samboer, Cilene?

Anônimo disse...

quer dizer que vivem juntos...sem se casar..agora deu um branco e nao sei como e a palavra em portugues..quanto a entrevista amiga...obrigada pelo convite,mas jornalista nao deve ser o entrevistado..rsrs