18.10.06

Puff, puff

Quando eu fumava, tentava aproveitar os resfriados para abandonar o tabagismo. Depois de um período  de gripe em que não conseguia sequer respirar, acreditava que aproveitaria o embalo para largar o vício.
Bastava três dias de curada para eu voltar aos meus habituais maço e meio diários.
Superada aquela dependência, tenho outra - muito pior, pois visível - a ser extirpada: a obesidade, atualmente encarada, mais do que uma questão estética ou de saúde, como o atestado da falta de caráter de ... quantos mesmo? algo em torno de 40% da população brasileira?
Não são as gripes que provocam anorexia que deveriam me levar à frugalidade alimentar que eu almejo, mas o momento chave para cumprir o destino reservado às gerações pós-década de 60, que têm de submeter-se à tortura da ginástica, algo hoje conhecido como "malhação" - gíria que vi nascer a partir de um esquete de programa do Jô Soares (ele repetia o bordão "Vamos malhar?" pra Cláudia Raia e ambos, numa academia de ginástica, desciam o malho em figuras públicas ou fictícias enquanto se exercitavam). Acho meio ridículo ouvir o termo, assim como acho brega chamar a Montenegro de "Vinícius". Mas isso é meu esnobismo ZSul mesmo.
Logicamente não pretendo nunca mais ingressar naqueles ambientes repletos de gente suada, comandada por um trainée de recreador de festa infantil berrando enlouquecidamente acima dos 800 mil decibéis de música bate-estaca que marca o rítmo e a intensidade da tortura.
Minha ambição é modesta. Quero tão somente caminhar pelas ruas da cidade, com disposição essencial para eliminar celulite e flacidez.
Como nos tempos de fumante, espero um sinal divino de que chegou a hora de deflagrar o Kenneth Cooper que existe em mim (alguém se lembra dele? Veio depois ou na mesma época em que o programa da Força Aérea Canadense). Pela quarta vez na vida, o sinal surgiu. Ontem, eu encerrei entrevistas no prédio de uma grande empresa brasileira. E então, acabou a energia elétrica, que não voltou em carga suficiente para fazer os elevadores funcionarem. Naturalmente, era hora do almoço. Tive minutos para imaginar paranoicamente que a Al Qaeda estava atacando o prédio, que a Coréia decidira lançar um míssil no Brasil, que alquiministas desvairados rodeavam a empresa pregando sua privatização. Por alguma iluminação que só posso creditar a santas e santos descalços, eu carregava numa bolsa meu velho par de tênis, que imediatamente tomou o lugar das sandálias de plataforma. Roubaram-me dez centímetros, mas permitiram que eu galgasse lepidamente, embora sem a graciosidade que gostaria, os QUINZE andares do edifício até chegar ao solo.
Hoje, claro, estou toda dolorida. Se amanhã vou pegar no tranco e percorrer a Lagoa? Nem a pista Cláudio Coutinho, que tem meio metro e a vista panorâmica mais bonita do mundo... A verdade é que vou virar uma escultura de meia idade da mesma maneira que larguei o cigarro: num dia qualquer, sem motivo algum, apenas porque aquele era um momento propício. 
Sem fazer alarde, sem badalar a própria conquista. Apenas porque a hora chegou.
Um dia. Sei lá quando.


4 comentários:

Palpiteira disse...

Eu fumava, muito, e adorava. Ô delícia que era; isso sem contar o charme de segurar o cigarro e soltar a fumaça deliciosamente. Foram anos assim, até uma gripe acompanhada de uma tosse nada charmosa; mais parecia um bêbado fumante de Hollywood (o cigarro). Larguei para tornar-me charmosa, sem aquela tosse vergonhosa. Foi assim: comecei porque era bonito e larguei quando começaram a achar feio. Minha saúde agradece. Agora, quanto ao seu regime, se precisar de ajuda, tou aqui. ;)
Beijos.

Anônimo disse...

Olga,
comigo acontece uma coisa muito curiosa. Eu nunca fumei e nem experimentei, mas existe uma horda de pessoas que me oferecem cigarro e que juram que já me viram fumando. Devo ter cara de fumante... Qto à dieta, sofro muito porque adoro sair para comer e beber. Infelizmente, me vejo obrigada a me submeter às academias... Beijo.

Anônimo disse...

Olguinha linda, quando você vem no Centro para almoçarmos uma saladinha? saudade enorme!

Olga de Mello disse...

Amanhã vou almoçar com a Marina!!!!