1.2.07

E a Mardita?


Janeiro acabou, mas a estranheza que o mês inteiro foi permanece. Um tempinho esquisitinho, abafado, chuvoso, alguns momentos do dia de céu azul.
(Isso provavelmente afeta blogs também. O meu anda piradinho. As últimas mensagens no Post da Femme Fatale não podem ser lidas.)
Fevereiro começa com aquele amargor da despedida de gente que amo profundamente e que volta para seus cantos, findas as férias. Todas as gatas entraram juntas no cio. As aulas vão começar e Botafogo voltará a ser o bairro mais congestionado da Zona Sul, obrigando-nos a retomar os deslocamentos subterrâneos.
Nota científica anuncia que o zumbido nos ouvidos que acomete boa parte da população é prejudicado pela ingestão de mais três xícaras de café ao dia. Cafeicômanos em fúria trataram de xingar os jornalistas pela matéria, informando que recente estudo publicado em revista especializada afirma que a cafeína é bom para o Alzheimer, conexões neurais, aumenta memória e concentração ou coisa que o valha.
Minha mãe sofreu de zumbido por muitos anos. Vivia com cara de "o quê, hein?", aquela expressão abobalhada dos surdos, deliciada por sua própria deficiência, que a levou a usar um aparelhinho nos últimos tempos de vida. O aparelhinho não adiantava grande coisa, ela ligava e desligava o trequinho. Na verdade, temos audição em estéreo, enquanto os aparelhos de surdez apenas aumentam o volume dos sons, sem distribuí-los, o que confunde ainda mais o surdo. Ninguém falava que sofria de zumbido naquela época, só Mamãe. Zumbido era uma deficiência rara. Agora, ataca 17% da população mundial, segundo a tal matéria.
Há cerca de um ano comecei a sofrer surtos de zumbido e percebi que entrara para o hall dos deficientes auditivos de minha família materna. Confundo, muitas vezes, o que meus filhos falam por entre os dentes, geralmente "ouvindo" xingamentos que os próprios irmãos que seriam atingidos pela ofensa corrigem. Tenho alguns ventiladores de teto ruidosos que contribuem para minha confusão auditiva. Os barulhos eletrônicos me atordoam e não consigo distingüir se o som de um telefone vem da televisão ou de minha sala. Envelheci mesmo neste mundo cada vez mais barulhento em que vivemos hoje.
Há uns 18 anos, dormindo na casa de minha avó em Florianópolis, fiquei atordoada com o silêncio. Era tão profundo que me doíam os ouvidos. Uma estranhíssima experiência que durou aquela temporada inteira. Agora, temo perder nuances de tons e sons da mesma maneira que gradativamente confundo formas próximas e distantes, já que sou míope e de uns dois anos para cá sofro da vulgar "vista cansada". Cegueta, ficarei também com cara de boba e voz de pato, definição de William Faulkner para uma personagem surda. Minha mãe amava Faulkner e vivia repetindo essa frase.

Nos comentários do Globo On sobre a notícia, um chocólatra tranqüiliza os demais dependentes de cafeína, informando que 100 xícaras de café equivalem a 200 latas de Coca-Cola ou a 50 quilos de chocolate. Portanto, o limite de três xícaras de café/dia corresponderia a seis latas de Coca-Cola diárias ou a 1,5 kg de chocolate por dia. Acho que os cálculos devem ter por base a xícara dos norte-americanos, não o cafezinho brasileiro, que abandonei junto com o cigarro, trocando-o pela maldita Coca Light e pelo mate. Viver sem ambos não me passa pela mente. E tomo, religiosamente, meio litro ou um litro inteiro deles por dia. Algo ainda abaixo dos quase dois litros correspondentes às seis latas de Coca. Fico surda, mas ligadona!
Ah, Fevereiro...

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