6.4.07

Por mais que eu ache linda a expressão "eu era feliz e não sabia" quando cantada com aquela singeleza do Ataulfo Alves (que me traz recordações doce-amargas e pungentes da infância), odeio seu uso e abuso pelos saudosistas de plantão.
Eu costumava dizer, quando jovem, linda e absoluta, que não sentia saudades do passado porque a melhor época da vida é a atual. Minha certeza mudou. A melhor cabeça do mundo é a que temos hoje, com maturidade e ceticismos gravados nos neurônios, mais compreensivos com as contradições e injustiças do cotidiano. Tempos belos passaram rapidamente demais e se fixaram em páginas de papel escuro, enfeitados com fitas e flores, cobertos por fotografias com legendas em caligrafia esmerada, amarrados na memória.
Sinto saudade da esperança, da alegria incontida, do destemor da juventude, quando não havia pudor em se beijar a boca de desconhecidos publicamente, embora fosse impensável ir para a cama com esse desconhecido a quem jamais iríamos encontrar novamente. Na maturidade, não se beija a boca dos outros em público, mas nos enlaçamos com desconhecidos por uma só vez, sem qualquer necessidade de que o mundo saiba que jamais reencontraremos esses companheiros fugazes de folguedos.
Não é melhor nem pior. É diferente.

* o postal acima e o abaixo estão em www.postsecret.blogspot.com

2 comentários:

Anônimo disse...

Belo post!

Olga de Mello disse...

Volte sempre, Milena. Beijo!