4.4.08


Quais artistas terão com prestígio post mortem? Robert Gottlieb, crítico americano, faz no New York Book Review uma análise sobre os trabalhos de John Steinbeck, Prêmio Nobel de Literetura em 1962, e afirma que ninguém mais o leva a sério, pela irregularidade de sua obra. (Eu, particularmente, adoro Tortilla Flat e Ratos e Homens, porém não tenho nem graus acadêmicos que abalizem minhas opiniões, nem sou colunista de literatura em qualquer publicação; apenas gosto de ler).
Nesses tempos de celebridades além dos 15 minutos, a literatura também sofre o boom do celebrismo. Todo mundo diz que brasileiro não lê porque na escola tem que lutar para entender José de Alencar. Tá, José de Alencar é breguinha, mas foi o pai do nativismo, vale a pena entender o contexto histórico daquele movimento. Há quem ache Joaquim Manuel de Macedo horrível. "A Moreninha" é uma gracinha, tirando, claro, uma linguagem que se modificou barbaramente. Poucos se atrevem a criticar Monteiro Lobato, mas, para minha tristeza, reconheço que a forma dele envelheceu. Os enredos, não, o que se comprova com as recentes produções do Sítio do Pica-pau Amarelo para a TV. A fala, no entanto, não sobreviveu.
No Todo Prosa, um blog muito bom, do Sérgio Rodrigues, há uma animada discussão sobre leitura no Brasil. Fala-se que é bobagem dar Graciliano para adolescentes lerem (Discordo. Quem não tiver maturidade para entender Memórias do Cárcere não será capaz sequer de acompanha jornais por televisão), que Guimarães Rosa só sobrevive graças aos esforços de alguns críticos.
É tudo verdade, a moda passa. Será que em 40 anos os livros de Rubem Fonseca continuarão sendo cultuados?
Como filha de leitores vorazes, li muitos escritores que haviam caído no ostracismo, como Cronin, James Hilton, Colette. Tem muita gente na casa dos 30 anos que jamais ouviu falar em Marques Rebello. E alguns, mais velhos, que desprezam totalmente Herman Hesse, cult na minha infância. Hoje, Calvino ainda tem admiradores ardorosos, mas pouco se fala em Cesare Pavese ou Miguel Torga - exceto se alguma boa editora fizer uma edição caprichada deles. Érico Veríssimo foi eclipsado pelo filho. Algo assim como Kirk Douglas e Michael Douglas, Henry e Jane Fonda. O bom de ter filhos que seguem a mesma carreira é permanecer em voga, nem que seja como "pai de fulaninho".
No futuro, restarão Shakespeare, Moliére, Racine, quem sabe alguns românticos, Homero, Dante.
As qualidades apregoadas são muito fugazes.

6 comentários:

Sonia Sant'Anna disse...

Eu adorava Steinbeck, principalmente East of Eden, e sua obra mais importante, Grapes of Wrath, que deu um filme belíssimo, se não me engano, de Jon Ford. Aliás, East of Edem foi filmado por Elia Kazan, fazendo de James Dean o ai dodói das mulheres. Não creio que esses livros tenham perdido o sabor. Mas outros livros se tornam ilegíveis com o tempo. Quam agüenta ler Bilac e Coelho Neto, ídolos em sua época? No entanto, Machado, bem menos apreciado do que ele na época, só faz crescer com o tempo.
Quanto a Monteiro Lobato, ouvi uma autora comentando na TV que não foi a linguagem dele que envelheceu. As histórias são para crianças até 10/11 anos. E as crianças de hoje têm um vocabulário muito pobre, insuficiente para ler Lobato.
Não troco o Érico Veríssimo pelo filho, que nãa me interessa nem um pouco.
Também concordo que é bobagem dar Graciliano para adolescentes. Dizia Rubem Fonseca em uma entrevista que aprendeu a gostar de leitura porque leu na infância e na adolescência livros divertidos. Uns de primeira, como os de Mark Twain, outros de quinta, mas cheios de aventura. A meu ver, para conquistar os jovens é preciso dar-lhes livros que, acima de tudo, divirtam. Pois leitura deveria ser acima de tudo prazer. Se li Guerra e Paz lá pelos 14 anos, foi porque me interessei pelos amores da condessa Natasha. Tornei-me leitora inveterada lendo livros de capa e espada, romances de amor, histórias de mistério. Quando cheguei à idade de apreciar o valor literário de uma obra, livros já eram meus amigos de longa data.

As Tertulías disse...

gostei muito do seu blog... se voce está procurando mais sobre cinema, teatro, estórias e "cousa e lousa", entao de uma passadinha pelo meu... seria um prazer para mim ouvir teus comentários!

As Tertulías disse...

querida olga, nao tenha dúvida: este é o início de uma boa maizade!!!!! passe o meu blog para seus amogos que se interessam por estes temas, ok? um beijo daqui de viena. Ricardo

As Tertulías disse...

é óbvio que quiz dizer amizade, né? .-))

Laura_Diz disse...

interessante... eu li Steinbeck, mto, gostei mto, li tb Graham Greene, Mark twain, enfim... fui boa leitora, não sou mais- ando mto ansiosa, difícil ler- a vida anda depressa, mta mudança.
Não li Monteiro Lobato, engraçado, não tive saco, lia outras coisas mais interessantes para mim que fui uma menina mto triste e não me sentia bem em criança.
Já vi que vc entende de literatura, eu não, só gosto de ler e de livros.
Bjs Laura

Olga de Mello disse...

Entendo pouco, Laura. Entendo como alguém que ama a literatura, que gosta da onda, da viagem que os livros proporcionam. Muito mais do que da importância desta ou daquela corrente literária ou o quanto elas refletem da sociedade de então.
Ler é, antes de tudo, prazer.