1.6.08

Às vésperas do assassinato do Tim Lopes completar seis anos, uma equipe do Dia (repórter, fotógrafo e motorista) passa por torturas bárbaras na Favela do Batan. Sobreviveram, apesar do horror a que foram submetidos. Os torturadores eram milicianos que hoje dominam a comunidade. Parece que tiveram apoio de policiais militares.
Já se foi o tempo em que jornalista podia entrar em favela. Por dez anos eu cansei de subir morro. Lógico que havia um ritual. A gente entrava, se identificava na associação de moradores, pegava umas duas criancinhas e passeava de mãos dadas com elas pelas vielas todas. Tomávamos cafezinho em cada casa visitada, bebíamos cerveja ma birosca, recusávamos almoço ou jantar, porque naquela época a favela acolhia a imprensa com carinho luso/afro/brasileiro, ou seja, entupindo de comida o visitante.
Tive alguma convivência com o Tim na época do Globo. Éramos vizinhos, em Ipanema, ele alugava o apartamento de um amigo de minha família. Íamos à praia no mesmo ponto, de manhã, ele levando o filho pequenino, então. Só pegávamos no batente à tarde. Era uma pessoa afável, boa gente mesmo, carinhoso e acolhedor. Depois, ele saiu pro JB, rodou outras redações e ficou na TV Globo, onde acabou morrendo a serviço.
Pensei que a pavorosa morte do Tim houvesse eliminado a falsa sensação de invisibilidade que jornalista imagina ter. Mas sempre tem uma equipe que acha que vai fazer uma super-matéria, denunciando a realidade nojenta que se vive nesta cidade, e correndo riscos absolutamente desnecessários. Pior que isso é a leviandade do jornal em permitir que três de seus empregados corram tal risco. Deveria haver ação imediata do Ministério Público contra esse tipo de irresponsabilidade, com pagamento de indenização por perdas e danos.
Mas realmente espero que os três coleguinhas do Dia consigam se recuperar e partir para missões mais amenas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olga, penso que intimidação ao trabalho do jornalista infelizmente sempre existiu e continuará existindo. Ou usa-se a força e a violência, ou usa-se o poder do dinheiro. É torcer pra que casos como esse sejam pelo menos pouco freqüentes. Um abraço

Anônimo disse...

Como jornalista, subi o morro uma vez apenas, acompanhando uma batida da PM. Eu era estagiário, tinha 20 anos, e fui porque quis, pra ter aquela experiência. O editor ~e o chefe de reportagem não sabiam que eu tinha ido. O repórter levou uma bronca deles, por ter permitido que eu o acompanhasse em missão tão espinhosa. Deu tudo certo e virou história pra contar, mas hoje vejo que não vale a pena o risco. Como repórter, hoje, eu nunca tomaria a iniciativa de investigar as atividades de uma favela. E como editor, faria o possível para evitar que minha equipe se expusesse a isso.