7.7.08

A boa vida

Sim, eu gostaria de ter um blog só pra falar nos pequenos momentos que consolidam a felicidade, em minha vida boa, nos meus belos filhos saudáveis, no trabalho que traz sustento e prazer, no incômodo divertido de ter um carro aos pedaços, mas que aindea me serve, comentar filmes, músicas, livros.
Mas eu sou uma carioca e me angustio ao saber que outros pais estão perdendo um menininho de três anos, alvejado pela PM na Tijuca. Pelo rapaz que foi assassinado semana passada por um PM na porta da boate. Pelos rapazes do Morro da Providência e por muitas outras crianças e jovens que são vítimas dessas violência institucionalizada, sem que nos comovam tanto porque o jornal não abre espaço para quem é preto e pobre que não têm direito à compaixão que os brancos de classe média merecem.
Mas como é duro ver esses meninos morrendo e torcer para que esses tiros jamais alcancem os meus. E não há passeata, não há movimento, nada parece dar jeito de comover quem é pago para cuidar, não para executar.
Essa polícia precisa aprender a policiar!!!!!
Precisa de escola, de salário decente, de treinamento. Entregar arma a esses despreparados é brincar de administrar a cidade. Os homicídios caíram, mas os autos de resistência continuam aumentando. E os assaltos a transeuntes, também.
Até que ponto se pode chegar? Bogotá, a capital de um país cujo maior produto de exportação é droga, conseguiu reduzir drasticamente os índices de violência através da reeducação da força policial. Houve uma série de medidas, algumas parecendo bastante ingênuas, com um prefeito performático, possivelmente algum dinheiro americano também, porém houve um esforço em discutir com toda a população o que mais a afligia. Até os presidiários e suas famílias foram ouvidos.
Aqui, na hora de reduzir um fator de incitamento à violência no trânsito, que é o abuso de álcool, neguinho já faz discurso sobre o quanto está havendo de violação na liberdade individual. Ao se tentar acabar com o comércio legal de armas, o mesmo espírito da defesa do indivíduo é invocado.
Estamos completamente equivocados. Respeitar a vida deveria ser um princípio de nossa polícia. Mortes impunes se sucederão a esta e a sensação que tenho é de que vivemos num faroeste urbano, em que diariamente driblamos o perigo nas ruas, nos escondendo amedrontados. Só falta identificar os responsáveis pelo perigo.

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