28.7.08

Sem gracinhas


Prova cabal de meu envelhecimento: o que mais reconheci em Juno foi o retrato da adolescência rude, inconseqüente e superficial que pusemos no mundo. Lógico que o filme é tocante, que a gente derruba umas lágrimas com o nascimento do bebê, que a menina repete o exemplo materno de abandono e que a única atitude madura da personagem é a de dar o filho para adoção.
Talvez a maior qualidade do filme esteja em mostrar esta juventude desglamourizada, grosseira, sem os ideais flower power que os avós cultivaram.
Não é uma gracinha. É mais sério do que aparente à primeira vista.
Elenco bom pacas, incluindo a protagonista chatinha. E por trás dos diálogos jocosos, uma situação que não deveria ser tratada com tanta banalidade na vida real. Mas é.

9 comentários:

Miguel Andrade disse...

Olga, muito boas as tuas colocações. Bem femininas! Só confirma a minha tese de que assunto de mulé, mulé é quem devia opinar. Aborto por exemplo. Homem falando isso ou aquilo me soa estranho... Tipo pimenta no olho alheio. Esse filme pra mim foi quase insuportável. Achei forçado em sua "modernidade", a protagonista idiota demais. Não consegui me ater no lance da maternidade como vc viu. Tentarei re-assistir agora.

As Tertulías disse...

...ou eu devo etar ficando velho ou a Austria realmente nao nos informa constantemente de coisas mais atuais (acho que as duas possibilidades sao verdadeiras... ) mas realmente nao tinha ouvido ainda falar deste filme... vou me informar!

outra coisa, querida olga, obrigado pelas tuas gentis palavras. voce realmente me deixou feliz... um beijo dfaqui de viena
Ricardo

Olga de Mello disse...

Miguel, não concordo que a decisão sobre ter um filho seja apenas da mulher. Os homens que se omitem exercem apenas a caretice institucionalizada no papel social.
O filme me incomodou por trazer uma situação particular e muito comum, que vai além da simples comédia. É chocante perceber que os pais adolescentes não têm mesmo qualquer maturidade para lidar ccm a própria sexualidade. É como se fossem crianças que não se importam em sujar as roupas numa brincadeira, porque não são elas que terão de esfregar as manchas de terra no tanque.
Só não vi o filme como uma comediazinha.

Olga de Mello disse...

Ricardo, este filme foi candidato a Oscar no início do ano. É curioso.

Beijo daqui do Rio pra você!!!!

Jôka P. disse...

Peguei esse filme em dvd e desisti de ver em 15 minutos no máximo. Essa menina-sapata que faz a protagonista além de feia só não é mais mala que o próprio enredo.
A culpa foi minha de pegar esse troço em vez de rever "69 semanas e meia de sexo", com Matheus Carrieri e Marcia Imperator.

Olga de Mello disse...

JÔÔÔKA!!!!! Vc continua impagável!
Beijo!!!

Miguel Andrade disse...

Heheheheh Tô rindo aqui do Jôka! Olga, não, eu não me expressei bem! Claro que sim, é uma decisão de ambos, mas a sua visão foi bem sensível. Eu nunca assistiria a um filme destes e ia ver qualquer coisa profunda ou mais séria além do que me foi mostrado. Ah e claro, não é uma comediazinha. As pretensões de ser underground, revolucionário e tal ficam latentes com aquele texto cheio de frases prontas... Quase todos os problemas sociais referentes à mulher estão no pé que estão porque quem toma as decisões no congresso (ou na igreja), infelizmente em sua maioria são homens. Não me referia à coisa do ponto de vista de um casal nem nada. Óbvio que o filho é dos dois, né?

Olga de Mello disse...

Miguel, também achei os diálogos forçados, embora bem interpretados. Mas a imaturidade grassa por todos os personagens. Os pais da menina não se incomodam com a gravidez, apenas esperam que ela se livre da criança de qualquer maneira,pois não querem ser avós. O pai adotivo é um garotão detestável. A mãe adotiva tem preocupações absoluta e totalmente fúteis quanto à decoração do quarto do bebê. O pai da criança é mais criança que o bebê. Juno é uma adolescente bobona.
Ou seja, ninguém é realmente responsável naquela sociedadezinha certinha por fora, mas estranhíssima por dentro.

Eduardo Graca disse...

Aqui nos EUA a polêmica toda foi se Juno era ou não era um filme pró-aborto. Uma baboseira só. O filme é muito bem escrito, ams perde em naturalidade. Miguel tem toda razão: os diálogos parecem forçados, embora os atores, inclusive a talentosa protagonistas, estejam ótimos. De chato o filme não tem nada, mas Olga tem razão, o marketing da 'comediazinha' é perverso. É um filme tão tocante quanto triste.