17.2.09

Vá ao Teatro - Medida por Medida


São os últimos dias, mas vale a pena dar um pulinho ao CCBB para ver a montagem de Medida por Medida, dirigida por Gilberto Gavronski. Divertida, alegre e de uma estética gay que não ofende nem a fundamentalistas cristãos - eu estava ao lado de alguns deles, que gostaram muito do espetáculo. Uma trilha sonora bem pop/disco, fidelidade ao texto original e marcação bem aos moldes do que se fazia na época do bardo, com discursos dirigidos ao público. O destaque no elenco masculino é Nildo Parente, embora as "mulheres" roubem as cenas mais dramáticas. Luís Salém e Ricardo Blat mostram a competência habitual, em meio aos outros moços, incluindo Rodolfo Bottino fazendo uma cafetina feia de doer. E no fim, tudo acaba em festa!
A matéria que eu fiz pro último número da Aplauso conta um pouquinho do que eles aprontam no palco.

Medida por Medida

Montagem elizabetana para um clássico de Shakespeare

À frente da primeira montagem da comédia Medida Por Medida, de William Shakespeare, no Brasil, o diretor Gilberto Gavronski quer que o espectador que for ao Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil tenha a sensação de uma viagem no tempo, com homens desempenhando os papéis femininos, como na Inglaterra seiscentista. Mesmo que a irreverência contemporânea perpasse o espetáculo, que conta com canções de um passado pouco distante, como Non, Je ne Regrette Rien – sucesso de Edith Piaf - para pontuar a trama desta comédia sombria, situada em Viena.

“Que ninguém espere dar gargalhadas estrondosas. A concepção de comédia daquela época era outra”, adverte Gawronski, que no palco faz duas aparições – uma como o próprio Shakespeare, outra na pele de Bernardino, um prisioneiro. “É um papel pequeno, mas o crítico Harold Bloom diz que ele guarda toda a essência da trama”, informa o diretor, que pediu o máximo de naturalidade a todo o elenco, incluindo Rodolfo Bottino, Sérgio Maciel e Rafael Leal, que interpretam as mulheres da peça. “Eles não são travestis, não estão fazendo caricatura de mulheres. Naturalmente, provocam risadas iniciais, pois são mulheres um pouco diferentes, precisam afinar a voz, cuidar da postura, tudo sem afetação. Ninguém quer buscar o riso fácil”.



Como em muitos trabalhos de Shakespeare, em Medida por Medida não há um protagonista definido, o que, segundo Gawronski, exigiu um cuidado maior na escola do elenco, que conta com Ricardo Blat, Nildo Parente, Luis Salém e Pedro Neshling em papéis de destaque. Salém vive o Duque, o governante de Viena, que passa o governo para Ângelo (Blat) e Escalo (Parente), quando sai em viagem. Invocando a necessidade de limitar a corrupção moral na cidade, Ângelo decide punir com a morte quem praticar sexo fora do casamento. A primeira vítima é um nobre, Cláudio (Neschling), cuja noiva, Julieta, está grávida. Quando a irmã de Cláudio, Isabela (Sérgio Maciel) pede que a pena seja comutada, Ângelo promete voltar atrás se a moça, muito religiosa, perder a virgindade com ele. Mas o Duque, que voltou à cidade disfarçado, consegue reverter a situação.

Para Ricardo Blat, apesar do comportamento dúbio, Ângelo não é um vilão, mas um funcionário determinado a cumprir sua missão. “Shakespeare não tem personagens totalmente bons ou totalmente maus, excetuando os claramente psicopatas que encontramos em algumas tragédias. Ele tinha um olhar agudo para analisar o ser humano em todas as suas nuances e contradições, oferecendo ao público possibilidades para perceber o personagem através de diferentes pontos de vista. E isso tudo é apresentado com um texto primoroso, rico, bem elaborado, extremamente envolvente”, diz Blat. Nildo Parente concorda que a dualidade dos personagens shakespereanos tornou o teatro mais humano. “Por isso ele é representado até hoje, pois o sentimento dos homens é o mesmo. Temos ciúmes, queremos nos vingar e nos apaixonamos da mesma maneira que na época de Shakespeare”, afirma o ator.

A cafetina Madame Jápassada, encarnada por Rodolfo Bottino, é a terceira mulher que interpreta. “Como ela própria, por cacoete profissional, é muito artificial, pude representá-la de maneira mais exuberante. Ela surge na época em que as grandes cortesãs começavam a ficar poderosas, usa maquiagem exagerada. O papel é pequeno, mas muito marcante. Afinal, os melhores personagens de Shakespeare são secundários”, lembra Bottino. Para Luís Salém, o espetáculo é agradável como “filme de capa e espada na Sessão da Tarde”. Em seu primeiro Shakespeare, Salém aceitou o convite de Gawronski porque gostou do desafio de deixar o tipo contemporâneo urbano que geralmente interpreta.

“O texto me intimidou, a princípio, mas é só se deixar levar pelo assunto que as palavras soam atuais, pois tratam de sensações eternas. O mais delicioso é o lado lúdico deste espetáculo, em que o público é cúmplice das artimanhas montadas pelo Duque”, diz Salém.

Coringas em cena

Para pontuar as ações de Medida por Medida, Gilberto Gawronski interferiu no texto original de Shakespeare, criando dois novos personagens que permanecem em cena durante toda a peça. Os dois coringas são interpretados por Wallace Lima e Murilo Fontes, atores da Cia Aplauso de Teatro. “Aos sábados, assim que o espetáculo termina, por volta de 20h30m, vestimos os figurinos de Todo Mundo é Mundo e nos enfiamos em um táxi para chegar a tempo de nos apresentarmos, às 21h, no Galpão Aplauso”, conta Wallace, 22 anos.

Contracenar com atores consagrados, como Ricardo Blat, ainda parece um sonho para Murilo, de 20 anos. “Custo a acreditar que divido palco com o Ricardo, um artista que admiro desde criança. É um aprendizado maravilhoso, até porque todo o elenco tem sido extremamente afetuoso e generoso conosco”, diz Murilo, que está na Cia Aplauso há dois anos. Participar de uma peça com atores mais experientes levou Wallace a se reconhecer como ator: “A Cia Aplauso é nossa família, que nos trata com carinho, que nos protege. Fazer um trabalho sem o grupo é me ver como um artista autônomo, um crescimento profissional importantíssimo”, afirma Wallace, que pretende, como Murilo, fazer faculdade em Artes Cênicas. “O melhor é sabermos que não estamos abrindo mão do convívio com a Cia Aplauso, mas trazendo um pouco do que vivemos nesta temporada, no CCBB, para junto do grupo, que só tem nos apoiado nessa etapa de aprimoramento pessoal e teatral”, acredita Murilo.

Medida por Medida

Comédia de William Shakespeare. Tradução: Bárbara Heliodora. Direção: Gilberto Gawronski. Com Luís Salém, Nildo Parente, Ricardo Blat, Celso André, Rodolfo Bottino, Alcemar Vieira, Pedro Neschling, Tatsu Carvalho, Rafael Leal, Gilberto Gawronski , Murilo Fontes e| Wallace Lima. Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro - Teatro I (Rua Primeiro de Março, 66, Centro). Fone: 3808-2020. Quarta a segunda, 19h. R$ 10.

3 comentários:

Anônimo disse...

Que elenco, hein? Fico imaginando como devem ser os bastidores dessa peça.

Taylor disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Taylor disse...

qm gostou dessa peça eh pq nao entende nada de teatro. eh uma PROSTITUIÇÃO DE SHAKESPEARE!!!
eu poderia dizer q estudo teatro na faculdade e leio stanislavki e david ball,mas nao preciso. qlqr babaca entende q oq eles apresentaram nao eh teatro!
nao me chamem de 'purista' ou 'careta' pq eu aceito as experimentaçoes de linguagens,mas apenas em nome da arte,e nao da DEPRAVAÇAO DA ARTE.
os aplausos no final nao era por causa das interpretaçoes mas sim da PUTARIA. pq tinha BUNDA D FORA
eles transformaram aqele palco numa boate gay! [nada contra os gays]