20.3.09

Seis graus de separação

Tive uma criação democrática e humanitária. A imbecilidade humana era vista como doença a ser tratada, mesmo que isolada. Tortura, pena de morte, linchamento nunca foram aceitos, sequer para punir quem cometia barbaridades.
Nos noticiários on line colho as mais terríveis opiniões sobre o caso do psicopata austríaco que manteve a filha e os netos/filhos em cativeiro. Além de odes à morte com requintes de crueldade como pena ideal a ser inflingida ao monstro - eu não sei o que é pior: estuprar uma filha seguidamente ou manter uma família isolada do mundo -, sempre há analogias com a política brasileira.
O que me impressiona é que a menção de que o psicopata sugeriu usar sua casa como museu, para angariar fundos e sustentar a família (esse cara está em êxtase absoluto por haver atraído a atenção do mundo inteiro) dá margem a paupérrimas e descabidas analogias com os desmandos e roubalheira dos políticos brasileiros. Sim, tudo na vida pode ser ligado a política, mas a pobreza desses sofismas mostra que há algo de muito perverso na ausência de educação de nosso povo, que teve um sistema de ensino massacrado durante os anos de chumbo. A apatia dos jovens em relação à política, o yuppismo exacerbado das classes média e alta, o desprezo pela piedade e a solidariedade que só existe para os seus pares me apavoram. Cada vez mais se acirram as diferenças, separam-se universos. Os 'outros' são o inimigo, grupos dos quais precisamos nos proteger e firmar barreiras intransponíveis, reservando a eles as funções de serviçais.
Os famosos seis graus de separação só são invocados para nos ligar a celebridades cada vez mais ocas, que vivem personagens e nada contribuem para a História.

2 comentários:

AOS QUARENTA A MIL disse...

Nem me fale , nem me fale , depois de ter visto as fotos daquele bebê em Jundiaí espancado daquela forma, e pasma com a que ponto pode chegar a perversidade humana , ando ficando totalmente revoltada.
Bjs.

Anônimo disse...

Isso me lembra uma palestra a que assisti ano passado, "A dor e a delícia de ser brasileiro". Tem seu lado bacana, mas tb tem seu lado pequetitinho... É normal, acontece com todas as culturas, mas isso não significa que tenhamos que ser passivos diante de nossos erros.