8.4.09

Faxina na alma



Há três semanas faxino minha papelada. Mas, como minha babá Maria falou, quando desfizemos a casa de meus pais e ela foi encarregada de dar fim aos arquivos de recortes de jornais bem organizados e jamais lidos, parece que papel vai brotando, quanto mais a gente joga fora.
Filha de um portador de TOC colecionista, para mim é dificílimo me desfazer de qualquer papelzinho. Penso nas árvores derrubadas para que ele chegasse a mim. Escrevo atrás de qualquer release que recebo, anoto entrevistas, recados, telefones. E guardo por muito tempo até o dia em que dá a louca.
Comecei revendo contas antigas. Isso sempre jogo fora, a cada doze meses as de cinco anos antes, porque tenho certeza que a Receita Federal, a Light, a Telemar e qualquer prestador de serviço ou a administradora do condomínio, a Prefeitura, enfim, a ONU, se puder, virão atrás de mim pedindo um recibo datado de 9 de abril de 2004. Cataloguei tudinho, arrumei em envelopinhos, revendo conta a conta, ano a ano. Guardo todas as do condomínio, assim como as do IPTU. Dezesseis anos de contas. Dos apartamentos anteriores fiz questão de entregar aos felizes compradores. Ou seja, sou uma culpada contumaz, que teme um "confere" que, certamente, jamais virá.
Uma vez fui chamada pela Receita Federal. Havia completado erroneamente o formulário, não incluíra centavos e, por isso, devia algo em torno de R$ 25 em multas por meu engano. Escrevi uma cartinha ditada pela funcionária da Receita, que se encarregou de me tranquilizar: quando viesse a restituição do imposto, eles descontavam o devido. Fiquei decepcionadíssima, pois levara todos os recibos possíveis e imagináveis referentes àquele ano. Não precisei apresentar nenhum.
Os prestadores de serviço poderiam nos dar um recibo anual, não? Seria muito menos papel para neuróticos - como eu - guardarem.
Começo a tentar me corrigir do apego aos papéis, jogando fora provas de livros. Com um aperto no coração, claro, pois bem que deveria aproveitar aqueles calhamaços de papel ofício. Se meu pai fosse vivo, teria surtos alérgicos só de imaginar os papéis indo embora com o caminhão de lixo - na pilha dos reciclados, pois aqui dividimos o lixo em sacos transparentes, apropriados para tal, como a Comlurb recomendou - aparentemente apenas para nosso prédio, já que nenhum dos meus amigos separa papéis de lixo orgânico, metal ou vidro. Quando Papai morreu, minha mãe deu fim a toneladas de jornal que ele guardara por décadas, armazenadas no sótão do prédio, e também a papéis ofícios de quase todos os lugares em que ele trabalhara, com timbres variados. Sem contar laudas dos jornais, aquelas com colunas riscadas, que só quem tem mais de vinte anos de jornalismo conheceu. Tudo foi para o lixo, já que fungos amarelaram a tal ponto os papéis que nenhum podia ser aproveitado.
Desfazer-se das tranqueiras pode ser renovador, eu sei. A dificuldade é desfazer a poeira que se acumulou sobre cada objeto, grudada a um passado que jamais retornará.

3 comentários:

AOS QUARENTA A MIL disse...

Que bom ! Pensei que só eu tnha essa mania. A diferença da minha compulsão em guardar papéis de toda ordem, para a sua é que vc me parece mais ordeira, eu ao contrário , junto papéis para me organizar , mas no entanto minhas bolsas, gavetas e armários parecem lixeira de tanto papel inútil e jogado , mesmo por que eu pego todos que me entregam no meio da rua com pena dos que estão ali trabalhando e por não querer sujar a rua , enfio nos bolsos e bolsas.

Bjsssssssss

As Tertulías disse...

Nossa... somos gemeos??????? os papéis, as contas, os envelopinhos... (aqui eu guardo tudo, por lei, por 7 anos, pode?)...
Linda Páscoa, minha Flor!

Olga de Mello disse...

Ihh, Mônica e Ricardo, eu também tenho um buraco negro aonde se acumulam papéis a serem arquivados por muito e muito tempo.
Um entulho autoritário, que me oprime e deprime...
beijo, feliz Páscoa a vocês!!!!