15.1.11

Outra vez.

Não adianta nada a gente começar um ano com festa quando vêm as chuvas e tantas mortes. Já vi essa tragédia tantas vezes, embora apenas em duas delas tive gente próxima passando sufoco. Em 1970 ou 1971, um casal muito amigo da família, tios por afinidade, apareceu na primeira página do JB, sendo resgatados por bombeiros na Praça da Bandeira, que inundou. Soubemos antes da notícia, pois meu tio ligou de madrugada para nos tranquilizar. A gente se apavorou, já que não sabíamos de nada e naquela época não havia jornal de TV transmitindo a desgraça ao vivo - e nem nós tínhamos TV.
Há uns dois anos, meu compadre Jorge Dau foi acordado pelo cachorrinho histérico, que latia freneticamente, na sala de sua casa de fim-de-semana, em Itaipava. Levantou-se, pronto para brigar com o Yorkshire, quando sentiu água nos pés. Foi o tempo de acordar minha comadre, Gisele, as duas filhas adolescentes, uma amiga das meninas, e a mãe, na época com mais de 90 anos. Subiram todos para um mezanino, onde passaram a noite, à luz de velas e lanternas, vendo a água arrastar móveis. Ao amanhecer, as águas começaram a baixar no momento em que eles já cogitavam a possibilidade de passar para o telhado. Perderam móveis, o carro e venderam a casa, lamentando nada poder fazer para ajudar os que haviam visto parentes sendo levados pela correnteza.
Desanima imaginar que essas desgraças seriam evitadas com algum cuidado nas construções e menos devastação da natureza. Desanima acompanhar isso todos os anos, chorar pelos mortos, comemorar os sobreviventes, saber que NADA será feito para impedir que, no próximo ano, vejamos mais cenas dramáticas como as atuais.

Um comentário:

Halem Souza disse...

Olga, será que diante de tanta devastação e tragédia - porque o que agora ocorreu na região serrana do RJ é dantesco - não será feito realmente NADA, como você desabafa?

Costumo ser pessimista, mas acho que dessa vez (pelo menos dessa vez), alguma coisa vai ser feita.

Um abraço.