No fim dos anos 70, os ônibus cariocas eram parados por policiais que pediam documentos aos passageiros. Situação tensa, silenciosa, constrangida. Uma vez, de manhã cedo, o policial pediu que eu acordasse a mulher que cochilava, negra, senhora, a meu lado. Eu me recusei. Ele não queria ver meus documentos, só os dela. Que tivesse pelo menos o trabalho de acordá-la.
Descobrir a diferença de cor e de classe era uma experiência diária. Um conhecido, técnico de telecomunicações, ao sair de uma festa na casa de meus pais, numa festa, conferiu se a carteira de trabalho estava junto a seus documentos. Perguntei por que ele carregava a carteira de trabalho. Ele apontou para o braço: "Preto tem que provar que é trabalhador pro meganha que entra no ônibus pedindo documentos".
Sempre foi pior para eles, não é? Nós, os que não somos eles, só trocamos as joias por bijuterias. Em comum com os pobres, só a impossibilidade de se usar aquelas medalhinhas de santo, que todo bebê ganhava. Hoje, nossos filhos perdem celulares em assaltos, mas não têm o menor medo de olhar diretamente para um policial. Nossas escolas não são alvo de metralhadoras, o uniforme do colégio particular serve de couraça, a pele, os olhos claros de salvo-conduto.
Do outro lado do muro invisível, mas sólido, não é assim.
Descobrir a diferença de cor e de classe era uma experiência diária. Um conhecido, técnico de telecomunicações, ao sair de uma festa na casa de meus pais, numa festa, conferiu se a carteira de trabalho estava junto a seus documentos. Perguntei por que ele carregava a carteira de trabalho. Ele apontou para o braço: "Preto tem que provar que é trabalhador pro meganha que entra no ônibus pedindo documentos".
Sempre foi pior para eles, não é? Nós, os que não somos eles, só trocamos as joias por bijuterias. Em comum com os pobres, só a impossibilidade de se usar aquelas medalhinhas de santo, que todo bebê ganhava. Hoje, nossos filhos perdem celulares em assaltos, mas não têm o menor medo de olhar diretamente para um policial. Nossas escolas não são alvo de metralhadoras, o uniforme do colégio particular serve de couraça, a pele, os olhos claros de salvo-conduto.
Do outro lado do muro invisível, mas sólido, não é assim.

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