Guiomar era uma mulher contraditoriamente anticonvencional em relação aos festejos. Boêmia, festeira, acolhedora e católica, não cultuava datas comerciais. Ovo de Páscoa não entrava lá em casa: eu nunca acreditei em coelhinho, sequer em Papai Noel, porque ela não gostava do "toma lá, dá cá" de Natal. Fora as incontáveis peças artesanais produzidas na escola - um leque horroroso, panos de prato emoldurados em papel (ô, ideia...) e um porta pregador de roupas feito de uma caixa de Catupiry pintada de azul com decalque de florzinha enfeitando (ficou pendurado por anos decorando a área de serviço) - jamais lhe dei um presente no dia das mães. Nem ganhei um só de dia das crianças.
Mas não dá para deixar de lembrar dela, talvez a pessoa com quem mais discuti a vida inteira, mas, certamente, minha maior cúmplice, protetora, guia e porto seguro. Saiu de cena muito cedo, porque as mães só deveriam morrer quando os filhos estivessem com mais de 76 anos, a idade em que ela se foi.

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