29.10.07

Francamente...

Nossas autoridades pós-modernas parecem com aquelas pessoas que começam a fazer análise e saem por aí dizendo verdades, doa a quem doer, distribuindo certezas que passam por cima, no mínimo, do tato.
Semana passada, algumas dessas declarações foram proferidas. Difícil selecionar o vencedor no quesito "Frases infelizes", todas gerando dupla interpretação e mal-entendidos que vêm sendo exaustivamente esclarecido por alguns de seus autores.
O governador Sérgio Cabral defende a legalização do aborto para impedir o nascimentos de crianças que seriam levadas à marginalidade devido às condições de miséria em que viveriam. Certamente, ele se baseou num estudo feito nos Estados Unidos. A tal pesquisa encontrou uma correlação na queda de criminalidade a partir da legalização do aborto em determinados estados americanos. O bom da declaração infelicíssima - até parece que bandido só nasce na pobreza; décadas atrás, o filho de um distribuidor de cinema foi indiciado por tráfico de drogas no Rio, e há diversos jovens de classe média traficando, atualmente - é que suscita uma discussão sobre educação contraceptiva.
O secretário de Segurança fluminense proferiu uma máxima das redações de jornal. Enquanto Beltrame falava da diferença do combate ao crime em Copacabana e na Favela da Coréia, jornalistas sempre disseram que a repercussão de um tapa em Ipanema é maior do que um assassinato na Baixada. Pura verdade. Quando o edifício Palace 2 desabou na Barra da Tijuca, houve matérias sobre a dor da perda de todos os bens dos moradores. Semana passada, uma enchente acabou com móveis e eletrodomésticos de diversas famílias em Mesquita. Não li nenhum artigo detalhando o trauma psicológico de se ver desprovido de tudo pelo que se lutou a vida inteira. O secretário disse que se referia à estratégia no enfrentamento com os criminosos, porém, para quem ouviu apenas a manchete de sua declaração, pareceu mais uma admissão de cuidados diferenciados no tratamento da população.
Naturalmente, o prefeito Cesar Maia não poderia deixar de soltar sua asneira, a única absolutamente indenfensável. O caos no trânsito da cidade desde o fechamento do Túnel Rebouças, para ele, só incomodou os motoristas de carros particulares. Lógico, quem anda de ônibus, por exemplo, nem percebeu que está demorando, em média, mais uma hora para chegar a qualquer lugar.
Nossos políticos estão abrindo seus corações à população. Não seria melhor eles guardaram suas observações para os consultórios de seus terapeutas?

3 comentários:

Sonia Sant'Anna disse...

Que nada, Olga, bom mesmo é que eles digam suas asneiras em público, pro eleitor saber direitinho quem é quem.

Anônimo disse...

A Sonia tem razão, melhor que mostrem a cara de uma vez. Mas confesso que fiquei chocada com a declaração do governador. Não seria melhor pensar num controle responsável de natalidade ao invés de "aborto"? Melhor prevenir do que remediar, não é? :)
Beijo.

Olga de Mello disse...

Também acho que ensinar as pessoas a serem responsáveis é a melhor maneira de evitar uma intervenção que traumatiza boa parte de quem se submete a ela.
Mas esses caras são umas figurinhas, né?
Agora que o sol saiu, coitado de quem está dirigindo ou preso dentro de um ônibus para se locomover. Não existe mais horário na cidade.