3.12.08

Fim de ciclo



Depois de dez anos de convivência, eu e Vanúzia nos separamos consensualmente. Quando chegou aqui em casa, éramos algo em torno de trinta quilos mais magras. Envelhecemos e engordamos na mesma proporção, compartilhamos alegrias e tristezas.
Antes de Vanúzia, tive em torno de 40 empregadas domésticas, que permaneciam, em média, três meses no serviço. Divorciada, trabalhando em jornal, com quatro crianças pequenas, por muito tempo mantive duas empregadas. Mas a rotatividade era tão grande que já me esqueci do nome de quase todas.
Vanúzia chegou para tratar do serviço na véspera de meu aniversário de 38 anos, quando eu preparava uma festa. Voltou na segunda-feira e nos conquistou por seu excelente e inabalável humor, uma alegria contagiante que suplantava sua pouca habilidade - ou seria afinidade? - com a faina doméstica. Enquanto fazia amizades nos portões das escolas dos meus filhos, reclamava das professoras que tratavam as crianças injustamente e tinha sempre uma novidade ao voltar da rua, o trabalho ficava meio de lado. Isso porque Vanúzia é desorganizada. E eu sofro de culpa pequeno burguesa pela exploração dos menos afortunados.
Aprendeu a passar roupa magnificamente, cozinhava mais ou menos, quebrava muitos copos, esquecia baldes, panos de chão e esponjas em qualquer lugar que estivesse limpando. Era a companhia perfeita para programas chatos, como festas de escola, compras no Saara ou no supermercado.
Nesse meio tempo, Vanúzia se apaixonou, engravidou e casou-se, dando à luz Giovanna no mesmo dia do aniversário de minha comadre ... Danúzia. O nascimento de Giovanna e o crescimento de meus filhos nos tornou mais independentes uma da outra. Manter uma empregada duas vezes por semana acabou pesando em meu orçamento.
Sem dor, sem mágoas, Vanúzia foi ganhar mais como folguista, cuidando de um menininho ruivo bem pequeno. Já recomendei que ela se afaste dos copos porque o salário é bom. E fiquei morrendo de inveja do menininho!
Vanúzia em dois tempos: em seu aniversário, cercada por meus filhos e por Luís Heitor, o vizinho que vivia aqui em casa também, e no bloco de carnaval do colégio, cuidando de Hugo.

2 comentários:

Jôka P. disse...

A minha empregada doméstica é bipolar.

Miguel Andrade disse...

Fiquei fascinado pra conhecer Vanúzia só pq ela aprendeu a passar "roupa magnificamente bem".... Sempre achei que passar roupa fosse um dom, que já se nascia sabendo fazer...